
Não há consenso entre os mais diversos estudiosos da Grécia clássica sobre o momento exato da existência de Licurgo – muitos o vêem mais como uma figura lendária do que propriamente um ser humano real. O primeiro a citá-lo foi Heródoto de Halicarnasso em sua obra clássica História.
Consta que seu irmão Polidecto – até então rei da cidade-estado de Esparta – faleceu deixando a rainha grávida. Licurgo recebeu da viúva de seu irmão a proposta de casar-se com ela, que faria um aborto, e assumir o trono da cidade-estado.
Dotado de elevadíssimo senso ético, Licurgo repeliu veementemente a proposta e, ao nascer-lhe o sobrinho foi o primeiro a proclamar: “Eis o rei que nos nasceu!”. Sua correção moral, sua firmeza diante de um fato que, na prática, o privava de assumir o trono de Esparta granjeou-lhe enorme popularidade, amor e o respeito de todos os espartanos.
A Rainha repelida passou a perseguir Licurgo de todas as formas e este se refugiou em Creta, onde aprendeu muito sobre Leis e Costumes, concluindo que em sociedades de vida mais frouxa no ponto de vista moral o desenvolvimento humano é consideravelmente tolhido, funcionando mais eficazmente aquelas sociedades dotadas de moral mais rígida. Considerava a vida de prazeres e licenciosidade uma forma de escravidão e via liberdade e felicidade numa vida mais regrada, com um regime rígido, severo mesmo
Enquanto peregrinava em estudos, a cidade-estado de Esparta entrou em caos diante de dirigentes fracos que causavam divisão e animosidade entre os cidadãos. Recebeu várias delegações de espartanos suplicando pelo seu regresso, recusou a muitas mas, ao fim e ao cabo, consultou o Oráculo de Delfos e ouviu que sua missão estava realmente em Esparta.
Para restaurar a Ordem diante da situação encontrada, Licurgo decidiu-se por destruir completamente a falha e caótica legislação vigente e, utilizando-se de seu prestígio e das bênçãos do Oráculo de Delfos, apesar de muitas lutas e discussões, conseguiu impor uma Constituição que passou a vigorar em Esparta.
Consta que foi a mais perfeita legislação jamais escrita por sábios humanos mas Licurgo, sempre coerente, sentia uma lacuna. Consultou novamente o Oráculo e ouviu que “Esparta só será efetivamente próspera e feliz se todas as leis forem rigorosamente observadas”.
Optou por sair da cidade-estado para o esquecimento ou ostracismo, exilando-se e deixando a expressa determinação do rigoroso cumprimento da legislação por ele legada.
Conciliando, sob o ensinamento e a legislação herdada por Licurgo, a força e a fraqueza dos homens, assim como a lei, os deveres e necessidades dos cidadãos, em pouco tempo a cidade-estado de Esparta transformou-se de uma das menores e mais insignificantes da Grécia Clássica numa das mais poderosas de toda a península.
O conteúdo básico da Legislação legada por Licurgo foi conservado por fragmentos, transmitidos principalmente por tradição oral. Oracular e aforismático, seu ensinamento consta principalmente de uma série de provérbios correntes em Esparta. Um deles compara a liberdade à servidão; outro deplora a avidez como sendo um vício a ser combatido; um outro exalta a importância de se cumprirem as leis em vigor e um outro ainda evoca a necessidade de se render homenagem aos mais velhos e venerar as coisas sagradas e as tradições de seu povo.
A cidade-estado dedicou-lhe um templo, equiparando-o aos deuses do Olimpo, advindo provavelmente daí a sua fama.
Seu legado a nós até os nossos dias é o respeito às leis e o dever de lutar pelo seu aprimoramento. O sistema político implantado por Licurgo em Esparta é conhecido como “Aristocracia” (de Aristoi = os melhores e cratos = governo - “governo dos melhores”) em contraposição à “democracia” ateniense (de demo = povo e cratos = governo - “governo do povo”).
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